sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Ciclo Vicioso

Editorial
Por: Silvia Correia

Apontado pelas pesquisas da Datafolha como o provável mais bem votado Deputado Federal do Brasil, Francisco Everaldo Oliveira Silva - mais conhecido como o humorista Tiririca – foi acusado por parlamentares de ser analfabeto. De acordo com o artigo 14, parágrafo 4º, da Constituição Federal Brasileira de 1988, o analfabetismo é um dos critérios prevalentes para a inelegibilidade. Contudo, essa mesma Constituição não impede que um analfabeto vote.

É engraçado e intrigante que para se ter iniciativa e sair à procura de melhorias para o ensino de base brasileiro não ocorre mobilização alguma. Nem muito menos quando se trata de correr atrás para saber se um candidato é ou não alfabetizado. Contudo, pedir voto a um analfabeto e enchê-lo de promessas e cestas básicas parece ser tarefa fácil nos períodos eleitorais. O pouco caso dos nossos governantes com relação ao analfabetismo é gritante e torna-se cada vez mais fluorescente no campo da política. Todavia, não é de hoje que a educação de base é deixada de lado, mesmo esse sendo considerado um dos setores mais importantes para o desenvolvimento de uma nação.

Ao passearmos na lembrança pelos séculos XVIII e XIX – época dos grandes barões do café – vemos que esse foi um período em que os mais pobres apenas aprendiam a escrever para votar em quem “bondosamente” lhes deu esse direito. O século XXI chegou, mas esse quadro permanece enraizado em nossa cultura. Agora a nova tática, para se colocar vendas nos brasileiros, são os programas assistencialistas. A política do pão e circo - realizada pelos imperadores romanos - transformou-se aqui no Brasil em “Pau-Amarelo”, “Vale-Gás”, “Bolsa Família”, entre outros. Ao invés de circos romanos para se assistir aos gladiadores lutando no Coliseu, temos também nossos estádios de futebol.

Os indivíduos – ao estabelecerem o Contrato Social, com a criação do Estado - renunciaram a sua liberdade e a posse natural de bens, riquezas e armas e a transferiram a um terceiro o poder de criar, executar e julgar leis. Ao cumprir seus deveres e ver que seus direitos são desrespeitados, a sociedade fica indignada e surgem os famosos “votos de protesto”. Essa insatisfação leva ao surgimento de fenômenos eleitorais como: Miguel Mossoró aqui no Rio Grande do Norte ou o Tiririca em São Paulo. Talvez seja por esse desencanto e descrédito da população brasileira que um bode na década de 1960, em Jaboatão (Pernambuco) foi eleito vereador e um macaco do zoológico municipal do Rio de Janeiro, em 1988, recebeu mais de 400 mil votos para prefeito e ficou em terceiro lugar na eleição daquele ano.

Este Jornal procura deixar bem claro que pratica a pluralidade e o apartidarismo editorial. Não estamos aqui para julgar Governo de partido x ou y. A falta de preocupação para com a educação da sociedade brasileira é uma questão cultural hereditária e de comodismo de ambos os envolvidos: sejam aqueles que têm o poder para governar sejam os que são governados. Para esse cenário ser alterado - o que precisa ser modificado não é uma lei, a constituição, mas o ciclo vicioso de candidatos assistencialistas e eleitores insatisfeitos, porém passivos. Porque “não basta dar o peixe e não se ensinar pescar”. Como também não adianta “ficar sentado esperando o milagre cair do céu”.

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